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sábado, 29 de outubro de 2011

TRANSIÇÃO

Eu não sei se com todo mundo acontece assim, mas eu tenho na memória o dia, hora, exatos, em que senti que a fase da infância estava acabando, e que a vida adulta se iniciava.
Para mim, isso aconteceu no primeiro dia de aula do curso ginasial.
Equivale a 5º série.
Nos quatro primeiros anos, o curso se encerrava quando os alunos tinham em média 10/11 anos, e as escolas eram separadas, nas escolas de curso primário, portanto só estudavam crianças.
Era apenas um professor ministrando todas as matérias.
Ao chegar no colégio,onde os cursos iam até o final do colegial, quando os alunos já estariam com quase dezoito anos, me vi cercada de pessoas mais velhas, com estilo de vestir diferente do meu, das minhas amigas.
Vi casais de namorados,
A hora do recreio, virou intervalo.
E nos intervalos, não havia brincadeiras, corre corre. Havia conversas, risadas, paqueras, tudo muito diferente.
Um professor para cada matéria. Aritmética virou matemática, linguagem virou português, comecei a aprender francês,inglês.
Um caderno para cada matéria, livros.
Um outro tanto de responsabilidade.
Lógico que continuaram as brincadeiras, mas elas foram mudando.
Eu, de olhos arregalados para o mundo, para a vida, feliz com cada surpresa, com cada mudança, fui descobrindo e mudando sozinha.
Adeus sainhas rodadas, bem vindas as mini saias, uma sombra azul, batom cor de rosa e viva!!! Meu sapato marron de saltinho.
E la´estava eu, querendo ficar bonita, espichando os olhos para os mocinhos, convencendo meus pais a me deixarem sair á noite aos domingos.
Sabe ,o Kevin,do seriado “Anos dourados”?
Eu vivi todas aquelas histórias, numa cidade como aquela, amigos como aqueles.
Tudo isso em Tabatinga, uma cidade muito pequena, onde todos se conheciam, onde era muito fácil e muito bom, passar por essa transição.
Onde os pequenos acontecimentos se agigantavam ,e as amizades pareciam eternas

sábado, 22 de outubro de 2011

Histórias de Tabatinga

Os professores que temos, faz toda diferença para o resto de nossas vidas.
Eu tive sorte. Tive oportunidade de estudar numa época em que as melhores escolas eram do Estado.
A carreira de professor era valorizada, e eles educavam de verdade.
Não era apenas ensinar a matéria, era ensinar comportamento. EDUCAR.
E na sorte e privilégio que tive de ter grandes mestres, destaco o Prof. Dirceu Sgarbi.
O Sr Dirceu lecionava História e Geografia em Tabatinga, e a visão que tenho dele como homem e professor, talvez nem seus filhos saibam, pois eram ainda muito jovens. Sr Dirceu é o pai da Maria Lia M. Sgarbi Secanho e do Dr Jerônimo Sgarbi, residentes nesta cidade, e também Dr João Paulo residente em Itápolis.
Acredito que é quase impossível alguém ser bom profissional, sem antes de tudo e acima de tudo, ser um bom ser humano.
O Prof Dirceu encarava com seriedade e competência a missão, o compromisso de lecionar.
Ele conseguia ser querido e respeitado por seus alunos, sem precisar tornar-se igual a eles.
Mantinha sua postura, elegância na maneira de ser, no espírito.
Nunca soube que, em qualquer ocasião, houvesse alterado a voz com um aluno sequer, não tenho registro de nenhuma expulsão, nenhuma grande advertência.
Nunca foi preciso. Ele se fazia respeitar sendo como era, apenas isso.
Nunca fez terrorismo com alunos, não me lembro de provas surpresas, era um professor tranqüilo e seguro.
Os alunos percebiam que ele sabia o que estava falando, o que estava ensinando.


Se nos rapazes ele provocava admiração, nas garotas, com todo respeito, arrancava suspiros. Além de tudo, era um galã.
No auge do filme “Dr Jivago” ele era nosso Omar Shariff.
No competente quadro de professores de Tabatinga, o Sr Dirceu era um ícone, admirado inclusive pelos colegas.
Eu ainda estudava lá, quando ele passou a ser o Diretor do Colégio Prof Abdalla Miguel.
Eu nem imaginava como um professor tornava-se diretor; na ocasião pareceu-me natural que fosse ele, acho que imaginei que tivesse sido uma eleição direta.
A mesma lisura com que lecionava, pautou toda sua vida pessoal.
Uma das lembranças mais forte que tenho dele, é do dia que fui com minha mãe pedir transferência para Ibitinga, onde iríamos morar.
Vendo minha tristeza por deixar aquela escola e os amigos que tinha lá, ele disse que seu quisesse continuar a estudar em Tabatinga, ele pagaria minhas passagens diárias.
O plano não deu certo. Meus pais não deixaram, mas a oferta me sensibilizou para sempre.
Ele ficou na minha memória como um homem que dá aos que o cercam tudo aquilo que se espera dele, um grande exemplo a ser seguido.
Um homem a quem tenho muito a agradecer, por ter de alguma forma ajudado na minha formação, e fazer de mim uma pessoa melhor.
• Estendo todas estas palavras ao Professor Oswaldo Pagni Gelli que, assim como o Prof. Dirceu Sgarbi, ensinou a minha geração como se faz a História.
Texto publicado Revista Multivisão MAIO/2.008