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quinta-feira, 19 de abril de 2012

ESSE É O CARA

Acho que não existe um brasileiro na minha faixa etária que não tenha uma musica do Roberto que faça parte da sua história de vida.
Na minha vida ele foi importante. Não vou me aprofundar em discussões sobre sua qualidade musical, embora o ache muito bom,quero falar de história. Num tempo em que os sucessos musicais, assim como os ídolos, são tão efêmeros, que musica é essa, que artista é esse que ficou tanto tempo no ápice, que ainda reúne multidões, que alegra, que emociona?
Eu curti Jovem Guarda as gírias, as roupas. Acho que foi o primeiro e único movimento musical brasileiro, que lançou moda, que fez os homens vestirem roupas coloridas, anéis correntes. Durante a jovem guarda, ninguém queria ser John Lennon. O brasileiro queria mesmo é ser Roberto Carlos.
"Quero que vá tudo pro inferno"
"Eu sou terrível",
"Negro Gato",
"Casamento não é papo pra mim","Namoradinha de um amigo meu": ele era transgressor.
Depois ficou romantico:
"Detalhes",
"Sua EStupidez".
Lançou Tim Maia "Não vou ficar",
Ficou erótico:"Café da manhã",
"Os botões da blusa,que você usava e meio confusa desabotoava…"
Maduro: Se chorei ou se sofri, o importante é que emoções eu vivi.
Meio bobo : Caminhoneiro, Mulher de oculos, Mulher de 40, mulher baixinha.
Costumo dizer que ele pode se dar ao luxo de fazer umas bobagens de vez em quando, seu saldo positivo ainda é muito alto.
Ele é talentoso, sensível, ético.
Grande artista, pessoa, é ótimo te-lo por perto.
Hoje recomendo mesmo que você não seja grande fã, dispa se de preconceitos, escolha sua musica Robertiana preferida e curta a letra.
Com certeza, você tem uma. A minha de todas as preferidas, a preferida, preferida é "Sentado a beira do Caminho". Vá ouvir. Bom demais.
  • Saudades da Tia Vera, cuja história se funde com suas músicas. Surpresa com a falta enorme que ela faz na minha vida.
  • Saudações para Antônia Landi, tão fã quanto eu.




domingo, 15 de abril de 2012

BOAS LEMBRANÇAS

No texto anterior deixei de escrever algumas coisas que acho importante na história dessa grande amizade.
Ele, já um universitário de 20 anos, eu com 13, reparava e elogia roupas novas e mudanças no cabelo, numa fase em que a auto estima está em formação, onde a gente não é menina, não é mulher, desengonçada total, ele sempre tinha um olhar e palavras carinhosas.
Embora nunca falasse sobre religião, ele ia todos os domingos á missa pela manhã.
A carta que ele escreveu, os conselhos que ele me deu, fizeram toda diferença em todo o resto de minha vida.
Acendeu uma luzinha de "alerta", "fique esperta", me sentí querida e importante, e não queria decepcionar. Voltei a andar na linha rápidinho, quando já calçava as sandálias para trilhar uns caminhos, sabe-se lá…
Nunca falamos sobre a carta, nem agradeci, mas ele sabia que era o amigo mais querido.
O que ele nunca soube foi a importancia que teve e da diferença que fez em toda minha vida.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Grande Amigo.Boas lembranças

Espalhado nos escritos de 6 anos de existência de meu blog, há registro de histórias e pessoas significativas da primeira fase de minha vida.
As primeiras lembranças da infância, até 1970, quando com quase 15 anos, me mudei de Tabatinga para Ibitinga.
Cidades vizinhas, 30 Km de distancia, mas estilos de vida muito diferentes.
.Entre as histórias, há uma que foi muito forte na minha vida. História de um amigo muito especial, sobre quem eu nunca tive coragem de falar aqui.
Não me sentia preparada para retratar com verdade meus sentimentos em relação á ele e sua história.
Não me sentia capaz de transcrever meus sentimentos em relação a sua importância para mim, ainda tão menina.
No inicio da adolescência, a gente procura ídolos.
Aqueles do cinema, da TV, e os que conhecemos na vida real.
O primeiro ídolo da minha vida, meu primeiro ídolo real, naquele universo tão pequeno em que eu vivia nessa fase ( Tabatinga), era o Negrine. José Negrine.
Tudo que escreverei sobre ele, foi visto com meus olhos de menina encantada.
Primeiro, ele se tornou alvo de minha admiração, porque era bonito.
Era alto, quase 1,90, ombros largos e atléticos, barriga tanquinho, muito antes da fase das academias de ginásticas.
Era sua natureza, aliada aos esportes que sempre gostou de praticar.
E como era bom atleta.
Jogava basquete, futebol de campo, de salão, corria nos campeonatos dos Jogos Estudantis.
Era bem humorado, sorria, com os olhos, que fechava á cada sorriso.
Richard Gere não perde, mas empata.
Apesar de ser 7 anos mais velho que eu, ficamos amigos.
Cada vez que ele ia jogar, eu pedia para segurar sua mochila, cuidar de seu relógio, segurar seus cadernos.
Ele sempre participava dos grêmios estudantis.
Ele carregava votos. Dos rapazes, porque era amigo, simpático, gente boa.
Das meninas, porque era tudo isso e … bonito.
Eu gostava da maneira que ele me tratava. A gente conversava muito, as vezes sobre amores, planos e muitas vezes piadas e muito risos. Ele era bom nisso.
Eu ria muito com ele.
Ele me tratava com respeito de gente grande. Eu gostava disso.
Ele tratava as pessoas com respeito.
Era um cara simples, hoje vejo que sua postura ética com as pessoas, com o mundo, ele não aprendeu. Nasceu sabendo.
Uma prova definitiva? Eu sempre fui adolescente desinibida, alegre, festiva, mas careta. Não fumava, acreditava que virgindade era para sempre, ou quase isso, beijar na boca era pecado, e dançar de rosto colado, proibido!.
Resultado: Não tinha namorado. Eu via todas minhas amigas namorando, menos eu, sem contar que não tinha nem um pretendente.
O que imaginei? Não namoro porque sou careta, vou ficar mais liberal, como minhas companheiras.
Não fui muito alem, mas comecei a sair com as meninas mais descoladas, que fumavam, dançavam agarradinhas, davam uns beijos. Estava me enturmando.
E nos bailes, quando vinham garotos das cidades vizinhas, comecei a dançar juntinho, estava liberando…
O Negrine, que estava fazendo Faculdade de Matemática em Bauru, e vinha todos os fins de semana para Tabatinga, começou observar minhas atitudes.
Não me disse nada. Escreveu uma carta, onde dizia para eu viver meu tempo, ser eu mesma, escolher as melhores amizades, que eu era diferente, para eu não apressar as coisas e continuar a ser aquilo que eu acreditava.
Uma carta linda. Três paginas, com sua letra grande, firme, forte, de professor. Li a carta para minha mãe, mesmo me arriscando a levar bronca por estar então, tentando “maus caminhos”.
Ela ficou encantada com ele.
Naquele tempo, na minha cidade não havia carteiros. Você passava no correio e perguntava: Tem carta para mim? Não precisava dar o nome.
A emoção indescritível de receber uma carta surpresa. Quase nunca ninguém escrevia para mim. Eu era uma menina de 13 anos. Ele um universitário de 20 então.
Que se preocupou como um irmão com meu futuro. Não me esqueci disso nunca.
A carta veio para mim: Maria Aparecida Ribeiro (Picida.)
Dos 12 aos 15 anos fomos amigos íntimos.
Com 15 anos mudei me para Ibitinga, mas férias e feriados, eu viajava para Tabatinga para rever os amigos especialmente o Negrine. Mantivemos o contato próximo até meus 18 anos quando fui morar em SP.
Então os encontros passaram a ser esporádicos.
Em 1976, no feriado de Finados 01/11 morando em SP, vim passar feriado em Ibitinga e fui passear em Tabatinga.
Eu, na porta do clube com amigos, ele na praça em frente com sua namorada Eunice.
Calça jeans, camisa branca. Chamei seu nome, ele acenou.
Foi a ultima vez que o vi.
Eu estava com 20 anos. Ele exatos 27.
15 de novembro haveria eleição para prefeito, ele já tão novo, era candidato a vice .Se não me engano, ele foi bem votado, mas não se elegeu.
Duas semanas depois, num sábado a tarde eu vinha de ônibus para Ibitinga passar mais um final de semana. Na parada que o ônibus faz na rodoviária de Araraquara, entrou um antigo colega de classe João Marquesi e me disse que soubera que um Negrine havia morrido.
Pensei em irmãos, primos dele. Jamais nele. Para mim, ele era infalível, e imortal.
Quando o ônibus fez parada em mais uma cidade, Nova Europa, a confirmação: Era o Zé Negrine, e com tiro. Como tiro? Em Tabatinga tinha revolver? Nem guardas eu via armado por lá.
Na parada de Tabatinga, exatamente ás 17 hs, saia o enterro, uma multidão na rua, as pessoas transtornadas.
Eu quis descer do ônibus por lá mesmo, o motorista e mais um amigo de Ibitinga não deixaram
Segui mais meia hora de viagem. Minha mãe e minha irmã me esperavam na rodoviária, queriam ser as primeiras a me contar. Já imaginavam o choque e a perda que seria para mim.
Foi a primeira vez na minha vida que alguém que eu amava, morria.
E elas me contaram a historia incrivel e trágica. Quase inacreditável.
Na sexta feita a noite, ele deu aulas no Colégio da cidade de Itápolis, e ao contrario do que era habito fazer, avisou na casa do amigo onde costumava se hospedar que após a aula, iria embora para Tabatinga, embora não gostasse de dirigir a noite naquela estrada de terra.
Avisou aos pais do amigos que não esperassem por ele.
Mas os alunos após as aulas da sexta feira, convidaram para um choppinho. Ele foi, conversaram ate tarde, ele se sentiu cansado, mudou de idéia: iria para Tabatinga no sábado pela manhã;
Quando foi para casa do amigo, todos estavam dormindo, ele não quis acordar. Ele já tinha sua cama, seu quarto reservado e sabia o segredo de abrir a porta:
Era só forçar, o trinco baixava, a porta abria.
Quando forçava a porta, o amigo, dono da casa, descia as escadas, perguntou quem era, ele não deve ter ouvido, não respondeu, o amigo que era cadete, deu um tiro para assustar o possível ladrão.
Acertou o amigo. Antes mesmo que ele abrisse a porta, seus pais, desceram correndo para avisar: “Ouvimos o Negrine colocar o carro na garagem.”
Era tarde. Um tiro só. Ele só teve tempo de dizer: “Deus tenha pena de mim”.
Acho que ele falou isso num pedido de socorro.
Depois eu soube, que no enterro, já quase 19 hs, começando a escurecer, o padre teve que pedir a população que deixassem que ele fosse enterrado, que estava escurecendo. AS pessoas se recusavam a aceitar o fato.
Fui á missa de sétimo dia.
A igreja lotada de uma maneira nunca vista.
Os amigos chorando, murros na parede, uma dor escancarada.
Naquele natal e muitos depois a cidade não se enfeitou, não acendeu luzes nem os piscas,
Durante muito tempo, sozinha no meu apto em SP, eu ouvia as musicas do cantor italiano Gianni Morandi, que tocava no cinema de Tabatinga e me lembrava dele, e chorava muito, muito. Tanto que uma vez uma vizinha perguntou quem chorava tanto a noite?
Confessei e assumi.
A dor foi passando, a foi ficando sua falta, saudades e lembranças boas.
Apesar de lamentar sua perda, agradeço a sorte de te- lo conhecido, por ele ter feito parte da minha vida.
E desde então, fiquei pensando intrigada: Pessoas especiais morrem mesmo mais cedo e desse jeito trágico?
Nunca o esqueço.
Voltando á morar no interior, fui passear com o Décio em Tabatinga, e no topo no Ginásio de Esporte seu nome: GINÁSIO DE ESPORTES JOSÉ NEGRINE.
Merecido. Tudo a ver com ele.
E Na TV TEM, Globo regional, quando há campeonatos de futebol de salão são disputados nesse ginásio, ouço seu nome mil vez na TV, lembro dele, de sua historia.
Lembro de tudo que ele foi, penso em tudo que ele poderia ter sido.
Uma saudade doce, melhor das lembranças.
“Das lembranças que trago na vida, ele é a saudade que gosto de ter”.
Reedição de texto escrito no meu blog há quase 3 anos atras

sábado, 7 de abril de 2012

SANTA NEM UMA SEMANA

                    VEJA ISSO


As primeiras semanas santas da minha vida, eu ainda criança em Tabatinga, ficava silenciosamente intrigada com o mistério que envolvia o fato de todas as imagens de santos da igreja, estarem cobertos por um cetim roxo. O que estava acontecendo? O que era aquilo?
Quando eu era criança, certas coisas, nem eram para se perguntar.
Se ninguem havia tido o que era, devia ser porque eu não tinha que saber…
Aí no catecismo, desfez se o mistério.
Começava com a quarta feira de cinzas, onde logo na missa de manhã tinha que ir a igreja onde as cinzas depositadas na cabeça pelo padre se confundiam com os confetes, nos cabelos cacheados.
Na quarta feira, carne nem pensar.
Em toda quaresma, as quartas e sextas feiras, só peixe, sardinha, ovos, legumes.
Os açouques nem abriam.
Era uma regra predominante. Em todas as casas, todas as famílias.
E em toda a quaresma, os santos cobertos pelo cetim roxo.
Ficava uma sensação de luto no ar.
Ninguém casava, ninguem batizava, nenhum tipo de festa. Era quaresma. Luto.
Na semana santa, havia a missa do“Domingo de Ramos”.
Eu não conseguia disfarçar a euforia na procissão de ramos, quando as pessoas,especialmente as que moravam na roça, traziam os ramos para serem benzidos.
Eles faziam arranjos, em forma de cestas, de laços, folhas entrelaçadas, eu achava tão lindo!
Muitas crianças como eu, só levavam uns raminhos, mas quando o padre os benzia, eu voltava para casa segurando meus ramos bentos, como se fossem a chave da porta do céu .
Na segunda, e terça feiras, nada a acrescentar. A igreja permanecia fechada.
Na quarta feira, “abstecer se de carne,como manda a santa madre igreja.”
Na quinta feira, cerimônia do lava pés.
Eu não entendia, acho que nem me interessava pelo aspecto religioso, eu ficava fascinada com o ritual teatral da cerimônia.
Na sexta feira, as rádios do interior não funcionavam, e os rádios não eram ligados. Silencio total.
Não era permitido cantarolar, assobiar, nem rir muito, nem brincar, nem brigar com os irmãos.
Tudo quieto, comedido, as vezes eu me esquecia, falava ou cantava alto, minha mãe logo corrigia: Silencio: hoje não pode.
Não que minha casa fosse de pessoas muito religiosas. Era assim que tinha que ser.
Na sexta feira o almoço era bacalhau. Mas com sentido religioso.
Sem espírito gastronômico. Receita básica: azeite, molho tomate, cebolas, batatas e azeitonas.
Ao anoitecer, na procissão, a cidade inteira, o pessoal da roça comparecia em massa.
Haviam
pessoas que vinham para cidade, só uma vez por ano, nesse dia. Mais importante que o Natal.
O momento em que a VERONICA cantava, enxugando o rosto de CRISTO, era para mim o momento mais esperado. O mistério. A Verônica trazia o rosto coberto, a gente nunca sabia quem era. Sábado a ressurreiçaõ, no domingo de páscoa, missa com roupa nova, á principio não havia o ritual dos ovos de páscoa.
No interior, eles foram chegando devagar.
A escola ensinava a música “Coelhinho da Páscoa que trazes pra mim? “
A primeira vez que os ovos de páscoa apareceram em casa, eu devia ter 11 anos. Na venda onde meus pais tinham conta apareceram os ovos, eu comprei fiado os menores, um para cada irmão, fiz um arranjo com papeis coloridos picados numa travessa coloquei os ovos, fiz surpresa para eles . Primeiros ovos, primeiros chocolates. Aí se fez a Páscoa ...
À partir dos meus 15 anos o sentido religioso da quaresma foi se perdendo, mas acho que não só para mim.
Hoje o peixe e bacalhau representam mais variedades gastronômicas. O chocolate é só o bom e velho chocolate.
Músicas, festas,TV, tudo normal. A quaresma nem se nota o ínicio e o fim.
Nenhuma crítica as mudanças. Só constatação.
A fila anda. As coisas mudam, até as maiores tradições, vão sofrendo alterações. Mas minhas lembranças, minhas histórias, estão aí. São meus olhos atentos para as mudanças.
Observações.