Páginas

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

PRINCESA

Tenho uma única sobrinha, a Carolina.
Uma princesa. Quase uma Carolina de Mônaco. 
Linda mesmo.
Quando minha cunhada Graça ficou grávida do primeiro filho, ao contrário da maioria dos pais de primeira viagem, meu irmão, torceu para que fosse uma menina.
Já tinha até escolhido o nome : Carolina.
Veio o Gustavo, dois anos depois o André, e assunto filhos ficou encerrado.
Oito anos depois, recebi a noticia que a Graça estava grávida.
Não esqueço o momento da noticia.
Revejo a cena em detalhes, cores e sons.
Na era pré-celular, quase 22 horas, eu estava indo para casa com o Décio, sentí uma necessidade de ligar para casa de minha mãe, sabe quando parece que aconteceu alguma coisa, um pressentimento, sei lá…
Pedi para o Décio parar numa avenida super movimentada, perto do Aeroporto, liguei de um orelhão á cobrar para minha mãe, perguntei se estava tudo bem, se tinha alguma novidade.
Ela disse que estava tudo bem e que a novidade era que eu ia ser tia de novo. Agora acho até engraçada a pergunta que fiz: “Como assim, Tia” ???
Só o Neto era casado, mas eu nem pensava mais na hipótese dele ter mais um filho.
E então chegou a Carolina..
Chegou sem programação, num momento de recomeço de vida do casal.
Trouxe alegria, felicidade e sorte.
O recomeço deu certo, a vida deu certo e ela nasceu princesa.
Cara e jeito de princesa. Não apenas os mimos e dengos de princesa. Postura e atitudes nobres. 
Contida, observadora, sorriso doce, olhos negros e doces de jabuticaba.
Mimos e dengos de princesa, mas alma fortalecida por conhecimento, formação, cultura, e educação, no sentido mais amplo da palavra.
Hoje,seu aniversario, aos 22 anos, vive um momento de crescimento, amadurecimento.
Vive também o melhor momento para aprender lidar com a perda, deixar de ser princesa e virar rainha. Rainha na auto confiança. Rainha na certeza de sua força.
Rainha no comando de sua vida, seu destino, suas escolhas.
Rainha nas avaliações, nos seu domínio.
 QUEM NASCEU PARA RAINHA, NUNCA PERDE A MAJESTADE”.
Mas ela  é que tem que saber disso, ter essa certeza.Veio ao mundo para brilhar.
Isso é para poucos.








quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

VIDA QUE SEGUE

Uso meu blog para registrar minhas memória, para o dia em que ela me faltar.
E ela ja não anda lá grande coisa…
Foi com saudades e carinho que contei várias histórias ligadas á Tabatinga, pequena cidade onde vivi dos 5 aos 15 anos.
Apesar de vários contratempos familiares, financeiros, apesar de varios momentos e situações dificies, tenho lembranças boas da cidade, das pessoas.
Lembranças de pessoas que fazem parte da minha vida,e fui desfiando por aqui algumas dessas histórias.
Cheguei a reencontrar algumas  pelo blog, então valeu, mesmo!
Em 1971 quando ia fazer 15 anos, meus pais se mudaram para Ibitinga, que era minha terra natal, maior e mais dinamica que Tabatinga, mas e dai?
Eu não queria.
Não queria sair do unico mundo que eu conhecia e gostava.
Ibitinga era a cidade onde meus tios e avós moravam, bom para passar ferias, feriados e só.
Morar? Nem pensar…
Mas em uma época onde a vontade dos filhos sequer era consultada, eu vim.
Era uma boa oportunidade de trabalho para meu pai, numa revenda CHEVROLET.
Bom salário, estabilidade, essas coisas.
Odiei a ideia, chorei muito, e pronto: mala e cuia para Ibitinga.
Eu que sempre fui desinibida, me vi sem amigos na escola, me senti na mais profunda solidão.
Tinha a Lila, Efigenia, que eram vizinhas de minhas tias , amigas de ferias e só.
Para quem tinha deixado o mundo, a vida, em Tabatinga, era pouco.
Tive que fazer uns exames bobos de adaptação para entrar colegio em Ibitinga, cursos que em Tabatinga não tinha, graças a Deus: Corte e Costura (meu maior tormento) Orfeão (alguem sabe o que é isso?) canto/música
E nessas adptações conheci uma amiguinha na mesma situação vinda de Borborema, uma cidade vizinha, tão pequena, ou menor que Tabatinga.
Duas estranhas no ninho, deu o obvio: nos unimos, ficamos amigas.
Sueli Stuqui era uma morena bonita, alta, magra, cabelos negros, uma beleza diferente
Era alegre, educada e simpatica.
Depois que ficamos amigas, descobri que para meus padrões ela era rica: morava numa area nobre, numa casa grande, bonita, perto do colegio
Mas era muito simples, claro, era de Borborema, quase um vilarejo.
Ibitinga era uma cidade dificil de fazer amizade. Havia turmas fechadas, gente que se conhecia desde sempre
Nem havia aquela curiosidadde normal por gente que vinha de fora.
Eram eles, apenas eles e ponto
Uma cidade sectária, onde as "classes sociais" não se misturavam e quer saber? acho que é assim até hoje.
Os caras que se acham, da "alta" não se relacionam com quem  acham que não estejam na mesma altura.
Não frequentam mesmos lugares, não namoram entre si, nada? agua e oleo
Costumo dizer que foi em Ibitinga que descobri que era pobre, em Tabatinga eu achava que era todo mundo igual.
Quer dizer iguais, todos somos mesmo, falo do social e financeiro…
Por um bom tempo na escola ficamos assim: eu e a Sueli.
Ninguem falava conosco.
Os meninos começaram a rodear a Sueli: ela era bonita, mas muito timida, não dava trela para nenhum deles, mas educada e simpatica sempre.
Algumas coleguinhas começaram a rodear a Sueli: a casa dela era Muiiito bonita.
Mas ela, sempre muito simples, na dela e minha amiga.
Certa vez, o Presidente do Gremio do Colegio ( ser Presidente de Gremio nos anos 70) era tuuuudoo, Jacó Estroniolli, veio falar comigo:
" Voce é a Picida, irmã do Rosalvo, que escreve poesia?"
Sim , eu mesma.
Seu irmão me disse que voce faz poesia, e estamos organizando um concurso de poesias, premio em $$$
Obaaa!!!
Primeiro, me senti importante, o Presidente do Gremio em pessoa estava falando comigo, e ela era lindo,lindo!
Segundo: Premio em $$$ para quem vivia sem nenhum era de grande interesse.
Não fiz nenhuma nova poesia, inscrevi algumas dos tempos de Tabatinga.
A escolha foi feita por um juri formado pelos mais conceituados professores do Colegio, a entrega do premio seria no mais importante clube da cidade o CRI (onde a nata se reunia, olha o sectarismos aí gente!!) durante um baile
E para quem não sabe, baile nos anos 70 era tudo, não há balada de hoje que se compare!!!
E pronto: meu momento de glória: ganhei o concurso, ganhei premio em $$, comprei sapato novo, doces, chocolates, bugigangas.
Adorei!!
Subi ao palco, aplausos, e eu fazendo tipo modesta. Eu estava é feliz e me "achando".
Desse dia em dia, me acharam aqui em Ibitinga.
O Professor de Portugues Aristides Campassi, que nunca chegou a ser meu professor, começou a dizer nas classes para as quais lecionava que tinha adorado meus poemas, que tinha gostado muito do que eu havia escrito.
Professor Osvaldo Pagni Gelli, conhecido por seu senso critico, tambem fez o que hoje chamariamos de meu marketing pessoal.
Só elogios .Huuummm
Eu tinha 15 anos, me deem um desconto…
À partir de então, demais professores, colegas de classe, começaram a me ver com outros olhos, a falar comigo,e a querer ser meus amigos.
Tive poucos amigos por aqui.
Poucas lembranças doces e saudosas para contar.
Mas vou a´elas. As que foram importantes, as nem tanto, mas são minha vida, são minha história, e eu estou aqui para isso.

domingo, 9 de dezembro de 2012

ACALANTO

Escrevo, com muita simplicidade sobre um momento muito especial: o momento em que o companheiro dorme.
Quando seu companheiro (a) dorme ao seu lado, e voce olha para ele, o que sente?
Atenção para a resposta , que não precisa ser ´publica, basta ser sincera, muito sincera.
Nesse momento, voce tem a oportunidade da mais exata resposta e avaliação de sentimento.
Porque nesse momento?
Porque, ali, ao contemplar o companheiro, o sentimento que brotar é o que conta.
Porque voce estará inteira, sincera, tranquila, sem se importar com julgamentos. Ninguem para ver sequer o seu olhar.
Nem ele.
E ele ali, desarmado, desatento, é o mais verdadeiro. Com o quê, ou com quem ele sonha, não conta.
È ao seu lado que ele repousa para voce ser e fazer o que quiser. Prova de confiança maxima.
Acredito que muitas pessoas ao olhar para o lado na cama, sinta ternura, saudade, gratidão, respeito, tesão.
Algumas podem sentir, cansaço, desilução, indiferença.
Quando eu ainda era adolescente e morava em Tabatinga, a pequena e tranquila cidade ficou chocada com um crime barbaro.
A mãe do Gonzaga, meu colega de classe, matou o marido a facadas, quando esse dormia ao seu lado.
Sem querer ser mórbida, mas imagino a cena. Ele descansado e confiante, momento maior da tranquilidade no seu lar: dormindo.
Ela: deve ter olhado, pensado, planejado. Quanto tempo de sentimento sincero ?
O ódio, a raiva, são sinceros. E nesse momento, não são camuflados, se tornam evidentes.
Numa  noite de sono, tudo é revelador. Nada é velado.Tudo transparente.
E para não encerrar com tragedia, penso em cantarolar:
"Quero ternura de mãos se encontrando, para enfeitar a noite do meu bem";
Dolores Duran, pensou nisso tudo, muito antes de mim.
E escreveu bem melhor.

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

RAIZES E ASAS

Tempos corridos e dificieis, desses de ás vezes, não saber para onde correr.
Então, sem saber para onde correr, páro.
Páro e penso.
Tento pensar e acreditar no futuro melhor, na força e capacidade de luta de cada um seguindo seu caminho. Todos podemos. Verdade. Isso é só o começo.
Comecei a semana com reflexos e reflexões sobre a vida.
Sobre o tempo vivido, historias construidas, sonhos a realizar.
Ter mais de 50 anos é um privilegio enriquecedor. As mudanças vistas de perto.
 E para não ficar só com papo de "no meu tempo" tento achar mudanças para melhor na vida das pessoas, na qualidade do ser humano.
Tecnologia ao alcance de todos: teria o mundo mudado para melhor?
Onde? Me convençam, please…
Revi no google  uma palestra do teologo Mario Sergio Cortella, ex Secretario da Cultura de SP, onde ele fala das mudanças na vida das pessoas. Fala sem julgamento, só constatação.
Antes da chegada da TV, a familia se reunia á mesa do jantar, e a comida era servida para todos no mesmo horário.
AS pessoas se viam, se falavam. Hoje cada um chega num horário, e segundo ele vão para sua "tóca".
Cada quarto com sua TV e seu computador
Comem quando tiverem fome, esquentam no microondas, cada qual no seu horário.
Na sala de visita, as poltronas e o sofá ficavam virados um para o outro. As pessoas se reuniam  para conversar.
Se chegasse uma visita, seria bem vinda, trazendo noticias, assunto, conversa.
Hoje uma visita, na maioria das vezes, incomoda .
As pessoas querem seu tempo, seu espaço, sua TV, seu programa.
Se um amigo ligasse para falar com o filho, o pai ou mãe, sabiam quem era,
Hoje, o amigo do  filho, liga direto no celular dele e muitas vezes não se sabe com quem ele fala, o que fala.
Hoje há  pais que as vezes, nunca andaram de avião e mandam o filho para Disney. Expectativa na chegada, os pais perguntam ansiosos :" E Então fiilho, como foi? Gostou?" Ele responde blasé : "Legal. Normal."
E segundo Cortella, acontece a "despamonhanização" da familia.
Dei muita risada quando o vi falar sobre isso e explicar, porque vivi a fase da pamonha em familia, e tinha esquecido completamente.
Fazer pamonha, era um evento onde toda familia participava.
Havia a turma da colheita (os homens), as crianças descascavam o milho, tiravam os cabelos, as mulheres se dividiam em grupos para o preparo, costuravam os saquinhos, e a degustação envolvia até os vizinhos.
Hoje não há uma atividade que envolva todos dessa forma.
E agora uma avaliação minha: Porque agora os pais tem que cuidar dos filhos para todo sempre e sempre?
Eles não amadurecem, não se comprometem nunca?
Não vejo casos isolados, vejo todos assim.
Onde existe a falha? São os pais que não os libertam, não os preparam? São os filhos que não querem? Um pouco de tudo?
Aos 18 anos eu fui morar em SP para trabalhar e estudar. Ninguem me deu nada de mão beijada, e eu não esperava que me dessem. Não que eu fosse melhor que qualquer outra de minha geração. Era todo mundo assim. Todo mundo na luta pelo seu espaço, sua vida.
Tanto é, que por muito tempo dividi apto com outras garotas, dividindo casa, sonhos, trabalho, responsabilidade, compromisso.
Ainda existe "republica de estudantes"? pelo que vejo, hoje cada estudante, quando sai da casa dos pais (quando sai) móra sozinho, as vezes mora em flat, e o pai e a mãe continuam ralando.
Trabalhei por mais de vinte anos no bairro do Bom Retiro em SP, quando era domínio de judeus.
Por conta disso, acabei tempo uma convivencia muito próxima com o estilo de vida desse povo.
Nem tudo são flores, mas haviam coisas á serem admiradas e copiadas.
Todo filho e filha de judeus, ao completar 17 anos passava uma temporada em Israel em "Kibuts", a comunidade onde aperfeiçoavam a lingua, conheciam melhor sua história, sua cultura e trabalhavam.
Vi filhos de pais ricos, passarem um ou dois anos trabalhando por lá nas atividades que melhor se adequassem.
Filhos de pais muito ricos, lavavam roupa, louça, chão.
Exercitavam o hábito de servir um ao outro, em prol de todos.
Filho de judeu, nunca vi entrar na empresa do pai, como "filho do dono".
Melhor sala, melhor mesa. Nããõo.
Entrava como ajudante, carregando pacotes, sendo office boy, conhecendo a empresa desde o trabalho mais simples. Só depois de experiente, decidia se em qual atividade ele iria se fixar e aí então comandar.
E  atualmente a maioria dos pais quer dar para os filhos tudo aquilo que não tiveram.Isso é melhor?
Como disse Cortella, o mundo que vamos deixar para nossos filhos amanhã,  será o que estamos construindo para eles hoje.
E como disse Liliana, minha irmã, que leu não sei onde que o maior legado que um pai pode deixar para os filhos é RAÍZES E ASAS.
Raizes para firmar sua historia e asas para voar e descobrir a vida.