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terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

LIVROS LEITURAS E HISTORIAS

Para contar minha história, vou puxando pela memória, para registrar minha relação com a leitura, que desde sempre teve muita importância em minha vida.
Assim que fui alfabetizada, aos 6 anos de idade, comecei a me interessar pelo ato de ler.
 Numa casa de pessoas simples, meus pais só tinham o curso primário, não havia um livro sequer, mas eu me interessava pelo ato de LER.
Lia os gibis de meu pai do Fantasma, do Mandrake, e ás vezes ele trazia gibizinhos do Tio Patinhas, Pato Donald, eu adorava.
Tinha também as fotonovelas (quem lembra?)
Eram romances, novelas, com fotos com legendas, que minha mãe insistia em esconder para que eu não visse os beijos na boca.
Quando ia para Ibitinga passar férias, as possibilidades de leitura melhoravam um pouco.
Mais revistas, até “Família Cristã”, “Seleções”.
Eu gostava de ficar horas lendo, o que eu encontrasse.
Mas ao mesmo tempo, não era uma criança quietinha.
 Desinibida, alegre, gostava de brincar, cheia de amigas, dividia meu tempo sem problemas.
 Na casa das minhas tias, encontrei meus primeiros livros: “Meu pequeno príncipe”, uma coleção de Louise May Alcott, que as meninas adoravam na época:”As mulherzinhas”, “As mulherzinhas crescem”, “Tom Sawer”, todos lidos numa férias, relidos na outra.
Quando tinha onze anos, minha mãe foi chamada no colégio em Tabatinga, para regularização de documentação, e fomos atendidas na biblioteca, que eu nem sabia que existia.
Dona Esli, a bibliotecária, jovem, bonita, elegante, e moderna.
Diferente do padrão, não é? Ela que disse que todos aqueles livros podiam ser “emprestados”, e indicou Monteiro Lobato.
Li a coleção toda, e não há Harry Potter no mundo que me cative mais que “O Sitio do Pica Pau Amarelo”.
Os livros que os professores mandavam ler para trabalhos de escola, para mim, era o tipo de tarefa agradável.
 Ao contrário da maioria, eu gostava.
 Todos os dias da minha vida, na minha adolescência eu tive um livro em minhas mãos.
Eu viajava nas leituras. Mesmo.
Quando tinha 13 anos, o Valfredo, irmão da D.Esli, mais velho que eu, num sábado veio até minha casa, perguntou se eu tinha lido “O Guarani” de José de Alencar. Ele precisava fazer um trabalho para escola para segunda feira, sobre o romance, com o resumo, análise dos personagens, essas coisas. Não, eu não tinha lido, ao ver o volume do livro, falei ser impossível ler num fim semana, eu tinha meus planos: passeio, cinema. Então, ele disse a frase mágica: “Eu te pago”. Meus olhos viraram dois cifrõezinhos $$$$$$$
Oba, ler e ainda ganhar para isso??? Assim começou minha carreira.
 Virei profissional na arte de fazer esses trabalhos para os amigos. Dos que eram amigos mesmos, dos mais íntimos, eu não cobrava. Chegava á fazer dez trabalhos por dia.
José de Alencar, Machado de Assis, José Mauro de Vasconcelos, Èrico Veríssimo, Ligia F. Telles, Jorge Amado e por aí vai.
Havia as leituras sobre encomenda, e tinha sempre uns livros que eu já havia decorado, e quando o critério de escolha, ficava por conta por conta do aluno, eu só tinha que ter o trabalho de fazer um diferente do outro.
 Eu não tinha uma leitura erudita, não era uma intelectual, só gostava muito de ler, e eu ficando tão rápida na leitura que até eu achava impressionante. Quando aos 15 anos, mudei me para Ibitinga, o hábito continuou.
Na biblioteca Municipal, eu lia os livros que eu estava á fim, as opções haviam aumentado um pouco, já encontrei Simone de Beauvoir, Victor Hugo, best sellers.
Mas continuei fazendo trabalhos de escolas aos montes, daqueles romances que os professores queriam embora um deles a D. Eugenia certa vez dissesse na minha classe, que sabia que tinha alguém (ela sabia quem era) que fazia trabalho para os outros e que mesmo mudando as palavras, reconhecia o estilo, reconhecia cada trabalho, mas, segundo ela, azar de quem encomendava.
Em SP, li menos, nunca fui de comprar livros, mas sempre emprestava de alguém, DEVOLVIA, continuei a gostar de ler, embora com menos tempo, e também porque aí surgiram para mim, as revistas e jornais. Até então, eu não tinha interesse por notícias, informações.
Virei uma leitora voraz de revistas e jornais, diminui os livros.
Passados os quase trinta anos morando em SP, voltei a morar em Ibitinga, e o que achei interessante, foi o reencontro com os amigos e os não tão amigos que se lembraram dos trabalhos de escola que eu fiz para eles.
De alguns eu lembrava, mas não lembrava que tinham sido tantos. Até o Decio ficou impressionado. Muita, mas muita gente mesmo. Eu diria que praticamente, nas duas cidades, toda uma geração que não leu porque eu o fiz por eles.Ganhei muito na vida por isso.
 Fez muita diferença em toda minha vida, e hoje vejo que se tivesse sido mais bem orientada, meu interesse pela leitura poderia até ter sido mais bem aproveitado.
E como convencer hoje um adolescente, o quanto ler pode nos acrescentar na alma, na vida?
E pode distrair, divertir, emocionar.
Continuei lendo muito.
 Meu irmão, Neto, comprvaa todas as revistas que encontrava nas bancas, TOODAAAAS.
 Desde as mais banais tipo Caras, Vogue, as semanais de informação,Veja, Época, Isto E, as experimentais,alternativas tipo Piauí, Aplauso, todas as de moda, Boa Forma, Vip, Placar, Exame, Rolling Stones, Trip, acho até que ele era meio compulsivo com isso, e as passava para mim.
Sou capaz de virar a noite lendo. Começar um livro na hora em que vou dormir e só parar quando chegar ao final, já com o dia nascendo.
Imaginem o que foi a leitura para uma menina que até os 18 anos só conhecia as cidades de Tabatinga e Ibitinga.
Os livros eram o meu mundo, meu passaporte, para onde eles me levassem e tudo valeu muito a pena.

2 comentários:

  1. Ah, mas então a culpa é sua, Picida!!! kkkkkkkkkkkkk brincadeira..azar de quem encomendava mesmo.
    Livros foram desde sempre parte de mim, de quem sou, que fui e serei, minha fuga, objetos de desejo e consumo. Companhia melhor? só do marido e dos cães.
    Acho bacana ler de tudo mesmo. Cada coisa tem um momento...
    Amo Monteiro Lobato, até sou herdeira de uma coleção maravilhosa, super encadernada. É sério. E vou te contar: Harry Potter é muuuuuuito legal. é mágico e super contemporâneo. Acho que foi o resgate da literatura em uma geração.
    bjs!

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  2. Picidinhaaaa!!! Que relato fantástico! Deveria ser lido nas escolas, tanto para os alunos, quanto para os professores de hoje.
    Meu marido já fez um voo inteirinho lendo, acredita? Só havia uma luzinha acesa no avião: a que estava sobre a cabeça dele.
    Amei!

    Beijocas!

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