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sexta-feira, 11 de maio de 2012

CONTANDO HISTORIAS

Só há pouco tempo percebi que embora a diferença de idade entre mim e meus irmãos  seja pequena, tenho lembranças de momentos distintos das nossas vidas que eles não tem,
Eu sou a única dos quatro, que tem na lembrança a vida familiar antes do meu pai começar a beber.
As primeiras lembranças que tenho começam quando mudei para Tabatinga, com cerca de cinco anos de idade.
O Neto, meu irmão dois anos mais velho, ficou em Ibitinga, morando com meus avós paternos.
A Liliana dois anos mais nova, então com tres anos de idade, não pode registrar nada.
 O Zé Luiz nem era nascido.
Lembro-me bem da casa ampla, simples e confortável, com um riacho no quintal, árvores e vizinhos amigos, bem próximo ao trabalho do meu pai.
Lembro de churrasco com os amigos do meu pai aos domingos, reuniões para comemorar seu aniversário, ele nos levando ao cinema aos domingos, depois passavamos numa lanchonete e comíamos um bauru.
Um pouco antes de eu completar sete anos, nos mudamos para area rural de Tabatinga. Fazenda Marquesi. Meu pai foi cuidar da parte mecanica de um alambique.
Para mim foi uma fase linda, sempre adorei o campo.Ficar na janela,contemplando o ceu azul ensolarado, com a campina verde á perder de vista, vacas no pasto, galinhas soltas,e eu aprendendo a ler e escrever na escolinha da fazenda.
A professora Bete Martinez.
Jovem bonita, recem formada, quando as mulheres que dirigiam em cidades´pequenas era coisa rara, ela chegava dirigindo um jeep. Aquilo pra mim era um acontecimento e tanto.
Dessa escola, a lembrança mais forte é o costume da epoca das crianças levarem para a escola um pequeno caldeirãozinho com o almoço.
Como eu tinha os hábitos da cidade,´so eu levava lanche. Comecei a ficar com muita vontade de ter meu almoço, e minha mãe me atendeu.
Comprou um caldeiraõzinho. E o momento maximo do ritual,eram as mães chegando por volta das 10 hs e deixando o caldeirão na janela da escola.
Às 11 hs, intervalo e cada criança pegava o seu almoço.
Me lembro da alegria de ver minha mãe colocando meu almoço na janela.
Demorei um pouco para achar qual era o meu caldeirão, fiquei ansiosa, confusa. A professora me ajudou, eu me atrasei para comer, tiveram que prolongar o horário do almoço, todos esperando eu almoçar.
Mas foi tão bom.
A noite não tinhamos energia elétrica.
Luz de velas, lamparinas, meu pai com rádio a pilha ligado em programas de musica sertaneja e futebol.
Vida simples e existia uma harmonia  muito grande.
Não me lembro de uma briga, uma discussão de meus pais.
Tudo começou depois, pois então ele começou a beber.
Mas dessa primeira infancia, ficam as lembranças das brincadeiras com minha irmã, a escola, as visitas do Neto nas férias, nos feriados, e o Zé Luiz ainda bebê.
Não posso deixar que a fase dificil que tivemos depois com o alcoolismo de meu pai, apague da história de nossa vida o pai presente que ele foi até então.
Presente, carinhoso, trabalhador, dedicado á familia.
Só eu tenho esses registros.
São minhas primeiras lembranças.
São boas lembranças.Sinto saudades.

criado por picida_ribeiro 16:36 — Arquivado

2 comentários:

  1. Cida, que lindas lembranças. Amei ler essas tuas histórias. Te imaginei olhando atraves da janela o céu ensolarado,o cenário de uma fazenda, a prof. Bete passando em seu jeep ( imagino tua carinha embevecida),a parte do almoço na escola, ... Ah tudo muito bom de ler.
    Um bjo

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  2. Olá minha amiga, você é uma pessoa privilegiada pela memória que tem, a maioria das pessoas não se lembram ou fingem que não se lembram de suas origens.
    Meus parabéns, bjs Zé.

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