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quinta-feira, 6 de setembro de 2012

PARA SILVANA GAION

À princípio, eu observava-a de longe. Vestindo sempre com os modelos da “última moda”, alegre, sorridente, conversando com todo mundo.
Observava-a e queria ser sua amiga.
E nos tornamos amigas íntimas, de ficar sempre juntas, na base do “só vou se você for”.
Às vezes ela pedia que eu ficasse na sua casa até mais tarde, que depois me levaria até em casa, e assim fazíamos. Quando chegávamos, ela dizia que não ia voltar sozinha. Eu voltava com ela.
E juntas íamos para o colégio, depois horas e horas de conversa que não acabava nunca, muitos risos e piadas, muitos choros de amores intensos e platônicos.
Estávamos sempre vivendo uma paixão, quase sempre á distância, vivíamos as histórias dos amores idealizados, a imaginação voando.
Sonhos e desilusões da adolescência. Juntas fizemos planos, vivemos os encantos e desencantos da idade.
Ela vivia as emoções de forma intensa. MUITO feliz, MUITO triste.
Ela era engraçada, fazia rir.
Sempre contava a história, de quando era criança, e saía com sua mãe para fazer visitas, e a mãe orientava que não pedisse nada, esperasse ser oferecido.
E numa dessas ocasiões viu numa cristaleira, uma travessa com doce de abobora que não foi oferecido. Sem querer desobedecer a mãe e parecer mal educada, não pediu, mas queria o doce.
Ficou em pé na cadeira, ergueu um braço e perguntou:”quem gosta de doce de abobora? E ela mesmo respondeu: Eu gosto, eu gosto.” Então a dona da casa ofereceu.
Ela contou essa história mil vezes, e em todas ríamos muito. Essa era a Silvana.
Amava sua família. Tinha orgulho enorme das irmãs, do talento da Arlete para desenhar, da sua personalidade forte e assertativa.
Tinha orgulho da Rosa, sua elegância, sempre bonita, criando o filho, estudando á noite.
O Fábio, seu sobrinho lindo, era um orgulho á parte. Ela assumia a corujice.
Às vezes eles brigavam, mas ela não prolongava a discussão.
O máximo de protesto que ela esboçava era dizer¨” OFábio está na idade da gaveta”. O que era isso?
Segundo ela, era quando a criança deveria ficar guardada numa gaveta, até a chatice passar.
Depois caía na risada. Imagino o orgulho que sentiria o ver a bela carreira profissional que ele tem agora.
No auge do sucesso do conjunto “Secos e Molhados”, fomos convidadas ela professora Ivone Custódio Vilela, á dubla-los numa concorrida gincana em Itápolis.
Ela sabia que só nos seríamos doidas de topar o desafio.
Depois de ensaios sérios e dedicados, com maquiagem da Arlete, música cantada pelo conjunto “Pedras Romanticas”, consagração total: ganhamos a prova com tanto sucesso, que viramos celebridades.
Fomos convidadas para apresentação em Itápolis, Tabatinga, e em todas as escolas de Ibitinga.
Aceitávamos todos os convites.
Ela era incapaz de magoar alguém, preferia até camuflar uma dura verdade.
Certa vez, conversávamos sobre nomes, e eu disse que achava Silvana um nome bonito, mas que não gostava do nome Maria Aparecida ( o meu). Querendo ser gentil, me disse que se eu me chamasse apenas Maria, seria feio, só Aparecida também, mas Maria Aparecida não ficava bonito.
Quando viu a trapalhada, ria e tentava consertar, não era isso que ela queria dizer. Mais risos. Essa era a Silvana.
Eu admirava seu jeito de tratar as pessoas. Foi a primeira pessoa da minha idade que conheci que de verdade, tratava todos da mesma maneira. Era amiga dos meus irmãos, dos meus pais. De ricos, pobres, jovens, velhos, crianças, feios, bonitos, modernos, antiquados, esportistas, intelectuais.
Seu universo era amplo, seu interesse pelas pessoas, irrestrito.
Boa aluna, tinha cadernos caprichados, escritos com letra bonita, redonda, sempre igual,
pedagógica.
Boa amiga, sabia ouvir, doar tempo e carinho. Sabia doar alegria
Em Ibitinga, uma geração inteira frequentou sua casa, estratégicamente instalada bem na esquina do colégio.
Sua casa era refugio, todo mundo ia lá para estudar, namorar no portão, ouvir música, e apenas conversar.
Formou se em Enfermagem, não gostou, optou com sucesso pela carreira pedagógica.
Perdeu se nas emoções, nas fortes e confusas emoções, e hoje sabe se que era portadora de Transtorno Bipolar.
Acho importante sua história ser contada, ser lembrada, para que não fiquem registrados apenas os momentos e situações confusas.
Acho que ela tem que ser lembrada, reverenciada até, pela pessoa especial que era, a amiga fiel e constante.
Sua sensibilidade, inteligência, têm que ser registradas.
Silvana Gaion. Um nome para não ser esquecido, uma pessoa e uma história para serem sempre lembrados, em corações e mentes.

Um comentário:

  1. NOSSA! ESSAS FOTOS da gente recebendo diploma ... fantástico. E Silvaninha, minha eterna Silvaninha, a quem devo minha felicidade atual (Silvana faleceu no meu aniversário logo após ter me apresentado minha atual esposa, aluna dela, que ela disse que seria minha esposa!). Silvaninha, minha eterna colega e amiga do GEON

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