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quinta-feira, 25 de outubro de 2012

CLASSICO E TRADICIONAL III

*  Nilton Roberto é o primeiro blogueiro que passei a acompanhar as histórias, escritas diáriamente, com sinceridade e verdade. Um homem de 50 anos que expõe histórias, pensamentos e sentimentos, as vezes contraditórias, até polemicas, mas sempre sinceramente bem escritas

SEU TEXTO NA INTEGRA:

" A PEDIDO


Outro dia recebi da minha comentarista mais assídua, a Picida, um e-mail com o seguinte conteúdo:
“Tatiana Rezende se baseou numa frase de um post meu, para escrever sobre ‘tradicional“. Então me veio a ideia e vontade de pedir aos escritores de meus blogs favoritos que escrevam sobre o tema.
O que dos dias de agora será “classico” e /ou “tradicional” no futuro?
Vale tudo. Comida, roupa, filme, musica, pessoas, costumes, novela, sei lá.
Conto com sua opinião“.
Bem, para quem não sabe, a Tatiana Rezende é uma jornalista que trabalha na equipe de produção do programa do Jô Soares e tem um blog que pode ser acessado no link http://trezende.wordpress.com/.
Pensei muito se escreveria alguma coisa sobre o tema, porque dele não gosto.
Na verdade, se for pensar, hoje em dia não existe nada acontecendo que apresente tendência a virar “clássico“.
Os Beatles (como um todo) são um clássico. Oasis, por exemplo, nunca será.
Duvido muito que haja explosão de vendas de cd’s daquela banda daqui a 40 e poucos anos, como acontece com os Beatles. Nem se compara.
Não vejo nada que hoje em dia esteja acontecendo para se tornar tradicional.
Aliás, na minha vã filosofia e pouca sabedoria radical acumulada em meus parcos 51 anos de vida, a palavra “tradição“, para mim, significa ”o modo como sempre fizemos as coisas“. Se é o modo como sempre fizemos as coisas, não admite mudanças. Até onde eu vejo, o que não admite mudança não evolui; o que não evolui fica estagnado; o que fica estagnado um dia acaba morrendo. Não vejo como fugir disso.
Sempre digo que minha relação com o tradicionalismo gaúcho acaba no churrasco. Tenho séria dificuldade em estabelecer uma diferenciação pessoal entre o que é tradicional e o que é costume. Não cumpro várias e várias “tradições” autoimpostas ao longo dos anos, que dirá o que vem de fora dos meus interesses.
“O modo como sempre fizemos as coisas“, pelo que percebi até hoje, é não só muito importante para muitas pessoas, como se torna um “hábito“, um “costume” seguro, que evita que as pessoas tenham que pensar em fazer as coisas de um jeito diferente, ficando com aquilo que já conhecem, porque já existe um roteiro pré-programado, seguido ao longo de tantos e tantos anos, que sequer pode ser questionado, ou seja, não admite mudança. É muito mais seguro andar por onde já se conhece do que tentar fazer um caminho diferente e cheio de surpresas, que, para começar, poderia ser muito mais excitante, mais estimulante.
Mas, para não dizer que não falei de flores, consigo admitir que é possível que no futuro, daqui a 60 anos, ainda estejamos falando sobre a “clássica” e “tradicional” roubalheira política em todos os níveis (escrevi roubalheira política? Errei, queria dizer “roubalheira dos políticos“, porque a política não se rouba, ela é uma ferramenta usada para perpetuar a verdadeira roubalheira), porque esta é uma ”tradição” que realmente vingou e que só sobrevive porque “o jeitinho” brasileiro tem sempre uma maneira de modificar “o modo como sempre fizemos as coisas“: para isso, roubar, sempre existe renovação. E o que se renova admite mudança. Se admite mudança, evolui. Se evolui, nunca fica estagnado.
Se não fica estagnado, nunca morre. Parece que existe, sim, em algum momento, uma diferenciação entre tradição e costume.
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P.S.:
(o mais engraçado é que durante a confecção deste post em alguns momentos fiquei com a sensação de estar escrevendo sobre casamento, por que será?) "

* TEXTO ESCRITO EM NOVEMBRO/2009
mas que sempre vale a pena ser revisto.

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