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quinta-feira, 11 de outubro de 2012

DOCES LARES EM TABATINGA

Minha casa, onde quer que fosse, de que jeito fosse, sempre foi importante para mim. Meu espaço, meu castelo.
Eu, rainha.
Se na minha casa, não me identificar, ficará complicado,complicadíssimo
À partir de meus cinco, seis anos de idade, lembro de cada casa que morei.
Detalhes de instalação, decoração, situação.
A primeira lembrança que tenho de uma casa, é da primeira casa que morei em Tabatinga 
Meu pai era funileiro mecânico (ainda existe essa profissão?) um operário enfim, mas muito qualificado e competente. Por isso foi convidado a trabalhar em Tabatinga e ir morar numa das casas do patrão.Osmar Dabruzio. Ficava ao lado de seu trabalho, na rua principal da cidade.
Era uma casa ampla, simples e confortável.
Uma área ampla antes da entrada, a seguir a cozinha , que era o lugar da casa onde fazíamos as refeições.
Tinha sala de visita, sala de jantar, pouco usadas, e dois quartos amplos.
O Neto, meu irmão mais velho, morava com meus avós em Ibitinga, só nos visitava em férias e feriados, a Liliana tinha 3 anos, lembro muito pouco dela nessa ocasião, e o Zé Luiz, nasceu nessa casa.
Lembro bem desse dia.
 Eu, brincando no quintal, olhando para o céu, esperando a cegonha.
A casa, minha mãe trazia impecável, como sempre. Em cada mesa, uma toalhinha, com vasinhos de flores de plástico, chão de madeira, encerado, brilhando. Cera Parquetina, com certeza. Brilho de escovão.
Nessa área de entrada, meu pai recebia amigos em dias de festa.
No quintal, passava um riacho que em raras oportunidades, minha mãe deixava me aventurasse.
As melhores lembranças são focadas na vida harmoniosa que meus pais viviam e que meus irmãos não tem como se lembrar.
Os passeios aos domingos á noite com meu pai, cinema e lanche Bauru no bar da D.Nivea
Meu pai, fazendo álbuns de figurinhas, lendo gibis de Mandrake e Fantasma. 
Depois moramos em uma fazenda, Marquezi, novamente casa do patrão, uma boa casa, simples, e ampla, muito confortável. Chão de vermelhão, encerado e lustrado. Um brilho só.
Limpeza e organização impecáveis.
Tinha um quarto de hóspedes que nunca era usado, e guardava uns 4 colchões de mola,que á cada distração de minha mãe, eu e a Tia Vera usávamos para pular e brincar.
Não tinha luz elétrica. Nos guiávamos por lamparinas.
Dormíamos cedo, mas dava tempo de brincar de joguinhos com Tia Vera nas férias.
De dia, ia para escola, fui alfabetizada por lá.
À tarde, hora de brincar, sair pelo campo, ver o gado pastando tão próximo, minha mãe pondo roupa para guarar á beira do riozinho, água de poço.
A noite, meu pai, com seu radio de pilha, ouvindo futebol e musicas sertanejas.
Mas, aquelas de verdade.
Cascatinha e Inhana, Pedro Bento, Zé Fortuna e Rei do Fole, Tonico e Tinoco.
As vezes ouviamos o programa “Balança mas não Cai”
Voltamos a morar na cidade, meu pai voltou a trabalhar na primeira empresa.
A casa era ao lado de seu trabalho, na frente tinha um posto de gasolina.
Já não dava para tantas brincadeiras. A casa era menor, a divisão dos cômodos era esquisita.
Moramos por lá pouco tempo, logo meu pai arrumou uma casa melhor.
A casa de Sr Aristides Cruz. Uma varanda ampla, 2 quartos grandes, e  o melhor da casa: o quintal, com arvores e  riacho que cortava toda a cidade.
Dessa vez pude brincar bastante. E nessa casa fiz amigos na vizinhança.
A Silvinha, a Lidia.
A gente brincava, passeava, conversava. Bola de gude pela rua, queimada, amarelinha, ver TV nos vizinhos, uma festa.
E de novo, e sempre, minha casa, embora simples, sempre muito impecável. Minha mãe nunca deixou para arrumar as camas depois, mais tarde, sei lá, por qualquer motivo que fosse.
Nunca teve dia de faxina, na minha casa todo dia era dia de varrer, encerar, lustrar.
Eu nem reparava. Parecia natural que fosse assim.
Minha mãe cuidava de cada detalhe, conservava por toda vida um enfeite que ganhasse.
Mudamo-nos para um casarão antigo, a casa do “Dias”.
Tudo muito simples, muito básico.
De bom, mas muito bom mesmo, o quintal enorme, com arvores e rio.
Nessa casa desenvolvi e cultivei manias, quase rituais.
Passei a ajudar minha mãe na  limpeza diária da casa: camas com lençóis bem estendidos,as toalhinhas, criei arranjos de flores secas, ajudava a dar brilho no chão.
À cada cômodo que eu limpava, eu fechava a porta, para manter a ordem.
À tarde ia para a escola, voltava as 17 hs.
Trocava de roupa, fazia  doce de leite cremoso, quase como leite condensado, só para mim, todos os dias, um pouco só, menos que uma xícara.
Deixava esfriando e ia para o quintal, quase bosque. Ou era um bosque mesmo.
Passava horas, sonhando, pensando, brincando, criando historias, lembrando outras, eram as melhores horas do meu dia. Voltava para casa, ao escurecer.
Fiz isso durante anos e todos os dias da minha vida.
Eu não trocava aquilo por nada. Adorava.
A casa seguinte já era uma situação mais modesta. Meu pai tentava seu próprio negocio, e isso nunca foi seu forte.
Ele montou uma oficina na frente e nos fomos morar no salão dos fundos.
Eu costumo dizer que morei num “loft”. Agora isso é tão chic…
Era um salão mesmo, mas que minha mãe dividiu com móveis, deu cara de lar. Lá os cuidaddos eram os mesmos. Sempre tudo muito arrumado e organizado.
Das lembranças boas daí, o Neto veio morar conosco, começamos a fazer amigos, paquerar, sair a noite, eu estava ficando uma “mocinha”.
Quando o negócio não deu certo, meu pai fechou a oficina, nos mudamos para uma casa no centro.
Casa antiga, sem quintal, sem varanda, só um janelão que dava para rua.
Mas era perto de tudo. Dos passeios, de minhas amigas, do cinema, do clube.
Uma das lembranças marcantes nessa casa, foi da chegada da geladeira
De segunda mão, mas conservada, com aqueles trincos gigantes.
Eu achava demais abrir a geladeira e iluminar a sala com ela. Dava um clima. Era um sonho.
A Liliana, minha irmã veio morar em Ibitinga com meus avós, queria estudar numa escola industrial, profissionalizante, que ensinava costurar e cozinhar.
Ela voltava nas ferias e feriados.
E num dia 28/01 seu aniversario, do nada, eu organizei uma festa de aniversario para ela.
Alguns refrigerantes, bolo e sanduíches. Chamamos os amigos, e fizemos uma farra.
Foi a ultima casa que morei em Tabatinga. Eu tinha 14 anos.
Mas dentro de cada fase, cada momento de minha vida, dentro de grande simplicidade, tive um castelo.
Minha mãe me fazia ver assim, sentir assim. Ela me ensinou que seu lar era seu reino.
 Aprendi e foi para sempre.
E isso sempre foi bom.
Depois falarei das demais casas. Fui quase cigana, mas sempre rainha do castelo

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